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Mirror People: «quis que este álbum também fosse de canções»

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Mirror People: «quis que este álbum também fosse de canções»

Ao fim de vários anos de trabalho como Mirror People, Rui Maia lança o primeiro álbum sob o «heterónimo», «Voyager». Juntámo-nos ao músico e viajámos pelo longo processo de criação do trabalho, conhecemos os colaboradores, e aterrámos nas canções.

 

MYWAY: Estás a trabalhar a solo há vários anos, e lanças agora o teu primeiro álbum como Mirror People. Porque é que achaste que esta era a altura certa para o fazeres?

Rui Maia: Foi quando consegui! As canções demoraram a ser construídas, passaram por diversas fases. Como convido pessoas para cantar, este intercâmbio via Internet leva um certo tempo, muitos dos instrumentais que eu tinha enviado para os vocalistas acabaram por ser mudados, e fiz instrumentais novos para as melodias de voz. Ou seja, este processo todo demorou imenso tempo, por isso é que o álbum demorou dois anos a ser feito. Até mesmo em termos de estilo musical, a minha primeira ideia para o álbum era uma coisa, e à medida que as coisas começaram a ficar completas comecei a definir o caminho, e a perceber ao que é que o álbum ia soar no final.

 

MYWAY: É por isso que o álbum se chama «Voyager», por causa de todo esse caminho até ao resultado final?

Rui Maia: Também. É também porque os colaboradores estão um bocado espalhados pelo mundo – tem pessoas que vivem na América, Austrália, Europa – é um bocado também pelas referências todas, e pelas influências que eu tenho a nível de composição, e mesmo dos instrumentos que misturei no disco. Tanto tem tambores africanos, como tem guitarras elétricas, ou funk americano, um bocado de nostalgia portuguesa…ou seja, esta viagem é mesmo por diferentes estilos musicais, e pelas pessoas com quem eu trabalhei. São todas pessoas diferentes, mas temos todos um fio condutor.

 

MYWAY: É também uma viagem no tempo, a uma altura em que o disco-sound explodiu?

Rui Maia: Sim, o disco-sound teve o auge nos anos 70, apesar de hoje em dia se fazer disco-sound de uma maneira um pouco diferente, a fazer lembrar um pouco o antigo, mas com as novas tecnologias. Antigamente, os instrumentos eram todos tocados, os músicos tinham mesmo de saber tocar bem porque não havia tecnologia suficiente para aperfeiçoar. Acho que hoje em dia, o disco-sound usa essas ferramentas modernas que te fazem tocar melhor, mas que fazem com que o resultado final seja diferente. No meu disco eu tentei juntar essas duas coisas, ter a eletrónica de agora, e as ferramentas que usamos agora, mas também ter aquele toque antigo. Todas as canções têm bateria real, e têm as tais percussões que falei. Quase todas têm baixo elétrico, mas ao mesmo tempo têm sequenciadores e sintetizadores que dão esse toque que achei curioso, e quis levar para o disco.

 

MYWAY: Sentes que há uma maior abertura para essa mistura de estilos?

Rui Maia: Eu acho que há! A partir dos anos 80, a música pop começou a ser um bocado sintetizada, não é? A Madonna e assim são mesmo sintetizados. Acho que hoje em dia o indie começou a ser mainstream, tu ouves Indie Rock em anúncios de TV, etc. O indie é o novo mainstream, e como é o novo mainstream e usa tradicionalmente as guitarras e as baterias, chegou aqui uma altura em que começou a haver um cruzamento de linguagem. As bandas tipo Franz Ferdinand, que são uma banda indie, ao terceiro álbum já misturam ‘n’ eletrónica, e isso acabou por se tornar uma tendência. Apesar de o meu som ser um bocado mais virado para o disco, e para a música de dança, o «Voyager» é composto de canções, e apesar de o estilo ser um bocadinho diferente, o exemplo não anda muito longe desse caso do Indie Rock. Há muitos artistas que andam no mesmo barco do que eu, e que usam também exatamente estas técnicas. Acaba por ser um bocado tendência juntar as duas coisas, a meu ver.

 

MYWAY: Voltando um bocadinho às colaborações, como é que chegaste a estes nomes?

Rui Maia: A maior parte das colaborações são pessoas com quem eu já trabalhei. No caso, por exemplo do Hard Ton, e do James Curd, eu fiz remixes para eles no ano passado, e eles gostaram do trabalho que eu fiz. Então quando eu estava a fazer o álbum, e estava à procura de vocalistas – que é sempre a parte mais complicada – lembrei-me logo naturalmente deles, porque gosto do trabalho, nos meus sets passo sempre coisas deles, e para mim era um privilégio ter aquelas pessoas no meu disco.

No caso da Rowetta, eu já tenho algumas canções com ela. Em 2010 lançámos uma canção pela «Discotexas», chamada «Feel the Need», na altura o contacto aconteceu porque eu fiz um edit do Serge Gainsbourg que pus no Soundcloud. Não sei como é que ela descobriu, e pediu-me para passar num programa de rádio. Quando vi o nome dela, acendeu-se uma luz cá dentro e fui logo investigar sobre ela, depois é que percebi que ela é dos Happy Mondays, uma banda que cresci a ouvir.

No caso dos portugueses, é um bocado diferente. O Rodrigo Gomes dos Thunder & Co., já o conheço há muitos anos, e também gosto muito do trabalho dele, e da forma como apresenta as canções. No caso da Maria do Rosário, que está a cantar comigo ao vivo, é diferente dos outros. Eu conhecia a Maria há muitos anos, do Clube Ferroviário – ela trabalhava lá – e há um ano atrás recebi uma mensagem de Facebook dela a perguntar se eu conhecia alguém com quem pudesse colaborar, e eu tinha uma demo, enviei-lhe, e disse-lhe: «olha, experimenta aqui cantar alguma coisa», e ela gravou para o telemóvel uma melodia, por cima do instrumental, e foi o single «I Need Your Love»! Eu andei anos a tentar encontrar um vocalista para aquela canção – acho que teve cinco vocalistas – e nenhum tinha feito um trabalho que achasse que estava mesmo «lá», e ela fez um excelente trabalho para a canção.

 

MYWAY: Soubeste logo que o «I Need Your Love» ia ser single?

Rui Maia: Sim, sim, mesmo. Eu senti que o instrumental era forte, precisava era da voz certa, e da melodia (vocal) certa. Quando ouvi a demo dela, tive logo a certeza, por duas coisas: primeiro pelo pré-refrão, e depois pelo refrão ultra forte. A canção tinha duas partes que eram fortíssimas. Normalmente, os refrães são sempre fortes, mas esta também tinha o extra do pré-refrão também ser, e pronto, foi logo a canção que achei que era ideal para ser single.

 

MYWAY: Como é que vai ser feita a apresentação deste álbum ao vivo?

Rui Maia: Nós ao vivo estamos a fazer as coisas de forma um bocadinho diferente em relação ao disco. O disco tem muitos convidados, instrumentos acústicos, e etc., mas como antes deste álbum eu estava a apresentar o projeto ao vivo sozinho, e estava a fazer na base de live-act com máquinas, estou a usar na mesma só sintetizadores ao vivo, e a Maria está a interpretar as outras vozes todas. Ou seja, somos um duo, mas no futuro nada me garante que não ponha mais pessoas. Há aí alguns concertos nos quais vou convidar mais pessoas para tocar ao vivo. Isto é Mirror – People (risos). Mas a nossa principal é tocarmos os dois. A ideia inicial era serem quatro pessoas, mas quando começámos a tocar os dois só em casa começámos a pensar: «ok, se tocarmos só os dois, e se tivermos uma abordagem mais eletrónica, isto pode realmente resultar, e é um projeto que acaba por ser mais original». Então decidimos avançar por aí. É portátil, é fácil de combinar, os ensaios são fáceis…acho que também acaba por resultar muito bem na música que eu estou a fazer.

 

MYWAY: A tua experiência como DJ facilitou-te a vida na criação deste trabalho, ou não teve nada a ver?

Rui Maia: Acho que os DJs têm de ter atenção à forma como o público reage às canções. Às vezes a estrutura, a forma como uma canção está construída, influencia o público. Acho que a experiência como DJ deu-me esse calo para tentar ouvir as minhas próprias canções, e imaginar como é que elas iam soar numa pista de dança. Depois, é claro, existem várias pistas de dança. Por exemplo, eu como Mirror People passo mais em clubes, tipo discotecas, mas quando meto música como Rui Maia passo mais em bares. Por exemplo, uma pista de dança do «Incógnito», é muito diferente da pista como a do «Musicbox». O que eu quis fazer com o «Voyager» é que fosse um álbum também pudesse ser tocado no «Incógnito». Eu quis que este álbum também fosse um álbum de canções. No «Incógnito» normalmente passam canções, enquanto em locais como o «Musicbox» ou o «Lux» passa mais música de dança, instrumental, com pouca voz…eu tentei que as coisas dessem para os dois lados. Tendo Mirror People começado como um projeto mais virado para a música instrumental, para mim também é importante ter um público que cante os refrões, e que as canções tenham versos. Eu próprio gosto disso, da música que oiço em casa, 90% ou mais são canções. É uma coisa que me sinto bem a fazer, e me sinto confortável, então quis mudar Mirror People por aí, adicionar esse lado mais pop, e não tão instrumental. Pelo menos no primeiro álbum, não sei se o segundo vai ser assim.


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