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João Vieira, vocalista dos X-Wife: «A indústria musical, hoje em dia, é uma grande incógnita»

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João Vieira, vocalista dos X-Wife: «A indústria musical, hoje em dia, é uma grande incógnita»

Os X-Wife são uma banda nascida no Porto e contam já com 13 anos de carreira. Os membros João Vieira (na voz e guitarra), Fernando Sousa (no baixo) e Rui Maia (na bateria e sintetizadores) estiveram afastados durante 3 anos para darem corpo a outros projetos. O último álbum que fizeram juntos foi «Infectious Affectional», em 2011, que conta com o êxito «I Live Abroad». Agora, surgem com o single «Movin’ Up» e vão pisar os palcos dos festivais de verão, como o NOS Alive (9 de julho) e o Paredes de Coura (21 de agosto). Estivemos à conversa com João Vieira, no Centro Comercial Amoreiras, e este foi o resultado.

MYWAY: Estiveram parados, no projeto dos X-Wife, quase 3 anos, mas agora regressam aos palcos dos festivais e com um single novo. Isto significa que vão retomar o trabalho enquanto trio, ou ainda não é agora que temos um novo álbum à vista?

João Vieira: Neste momento, estamos mais focados em escrever canções e, à medida em que as canções forem suficientemente boas e que nos agradem, vamos trabalhá-las em estúdio e pô-las cá fora. Isto é mais do que o conceito de álbum. Um álbum é algo que é muito demorado de compôr, é muito demorado de trabalhar em estúdio e pós-produção. E nós achámos que esta era a altura certa para lançar um single e para voltar. Se começássemos a trabalhar agora num álbum, teríamos de esperar mais 2 ou 3 anos e as coisas podiam esmorecer, podia perder-se a vontade, podia até perder-se pelo caminho o projeto. Por isso, nós achamos que, se calhar, a melhor forma de trabalhar é esta: ir lançando canções e, também, estar em sintonia com o rumo que a indústria musical está a tomar (que é um pouco na base das playlists e dos downloads).

MYWAY: Nestes quase 3 anos em stand by, cada um de vocês esteve ocupado com outros trabalhos, também no mundo da música. O que é que achas que, no teu caso, o projeto «White Haus» veio trazer de novo a ti e, consequentemente, aos X-Wife?

João Vieira: O que veio trazer mais é que o projeto «White Haus» é um projeto feito em estúdio. Os X-Wife são um projeto feito em sala de ensaios. Isto significa que o processo de composição e a forma de fazer música é muito diferente. Há uma atenção ao pormenor muito maior, em trabalho de estúdio. As coisas são trabalhadas até à insanidade. Portanto, o que aconteceu foi que este trabalho de estúdio de nós todos, esta experiência que tivemos a fazer ao longo deste tempo a fazer álbuns a solo, também o Rui e o Fernando a tocar noutros projetos, é que veio dar uma roupagem muito diferente aos X-Wife. Agora, além de continuarmos a viver da energia da banda a tocar ao vivo, temos uma maior atenção ao detalhe e à produção. Essa foi a maior influência, crescemos como músicos e como produtores.

MYWAY: E isso já se nota neste single?

João Vieira: Sim.

MYWAY: Estão agora a completar 13 anos de carreira. 13 anos que acompanharam a evolução da música digital e, cada vez mais, fugaz. Qual é o balanço que fazes do vosso trabalho e do vosso sucesso? Sentes que conseguiram acompanhar o ritmo e a exigência que o meio musical pede?

João Vieira: A indústria musical, hoje em dia, é uma grande incógnita. Tudo acontece de uma forma muito rápida. Há bandas que tocam num festival e, no ano seguinte, já ninguém se lembra delas. Há muita coisa a acontecer e o que nós temos vindo a fazer como banda, que eu acho que foi importante, é que temos construído uma carreira ao longo do tempo…fomos criando uma base sólida de fãs e conquistando novos públicos, sem ter picos demasiado altos. E isso foi benéfico para nós. Tudo foi gerido de uma forma natural e muito honesta, porque sempre fizemos o que fazia sentido para nós. Esta pausa também veio demonstrar isso, se calhar foi bom as pessoas deixarem de ouvir falar em nós e agora voltarem a ouvir.

MYWAY: Apesar de já não terem 20 anos, os X-Wife conseguem manter a mesma juventude e ousadia como se os tivessem. Assim, pergunto-te que conselho é que dás aos jovens, que não te deram quando te foste aventurar para Londres?

João Vieira: Para quem vai seguir uma carreira ou part-time, na indústria musical, é muito complicado. É difícil. Há muitos artistas de renome que batalharam muito para chegar onde chegaram. É preciso muita persistência…falha-se muitas vezes. Mas, se é realmente aquilo em que nós acreditamos, e eu acho que esta é a base de todo o trabalho, esse é o caminho. É preciso ser-se original, ter uma identidade própria e não ter medo de arriscar e fazer algo fora do normal. Fazer coisas sem sentido, ou que as pessoas podem não gostar, às vezes funciona.

MYWAY: Esta mensagem de boa-disposição, aventura, ousadia e jovialidade que vocês transmitem, através da vossa música indie e pós-punk, é o grande legado que os X-Wife querem deixar ao público? É assim que vocês encaram a vida também?

João Vieira: Acho que sim. Nós somos uma banda de palco, damos muitos concertos e foi assim que conquistámos público, através da energia de tocar ao vivo. Somos pessoas muito ligadas à música. Gostamos muito de ver concertos pela energia que nos transmitem, é isso que também tentamos fazer. Também há uma química em palco muito forte entre nós. Funcionamos muito bem.

MYWAY: Já atuaram várias vezes em palcos norte-americanos, como por exemplo no festival South by South West (no Texas, em 2007). Os E.U.A. sempre foram um sonho a atingir com a internacionalização da banda?

João Vieira: Foram. O grande problema dos E.U.A. foi a distância e os custos que isso implicava. É muito caro ir aos E.U.A.. Não é complicado fazer tours mas exige uma dedicação quase a 100% para a banda. Desistir do estúdio e estar meses nos E.U.A. a tocar. Fomos três vezes lá e ficámos com a sensação que havia muito trabalho a fazer ali. Nunca desistimos, mas ficámos com essa noção. Infelizmente, nós não tínhamos essa disponibilidade, nem de tempo, nem de entrega, nem financeira.

MYWAY: No vosso processo de internacionalização, sentes que fizeram o que podiam ou ainda há muito por fazer?

João Vieira: Já não penso muito na internacionalização, para ser sincero. Hoje em dia, a partir do momento em que um disco está disponível a nível mundial, em plataformas digitais, já não há aquela coisa que havia há 10 ou 15 anos, em que tinhas de ter um contrato discográfico para distribuir o teu disco pelas lojas. Fez mais sentido apostarmos em Espanha, França e Inglaterra…porque isso da internacionalização lá para fora (E.U.A.) requer uma máquina a trabalhar.

MYWAY: Depois da tua experiência a solo, e já que eles não estão aqui, quais é que são as vantagens em fazer música com dois amigos, como são o Fernando e o Rui?

João Vieira: É diferente. Quando trabalhas a solo a direção é 100% tua. Quando trabalhas em grupo, tens de ceder. Se alguém não está de acordo, numa ou noutra coisa, não se faz. Tens de saber ouvir os outros. É como se fosse um casamento. E nós, com os anos, conhecemo-nos muito bem e conseguimos trabalhar muito bem. É importante haver sintonia e nós estamos em sintonia.

MYWAY: Já foram todos pais?

João Vieira: Menos o Rui.

MYWAY: Isso mudou alguma coisa na vossa maneira de estar e de pensar do vosso lado mais roqueiro?

João Vieira: Continuamos a falar das mesmas coisas, não mudámos enquanto pessoas. O que mudou foi o nosso estilo de vida. Aquela entrega que havia para a banda, agora, é diferente. Mesmo na parte da composição, na escrita de letras, vamos buscar inspiração a coisas diferentes, porque a vida mudou. Mas mantemo-nos com a mesma atitude, relativamente ao palco, à composição e ao convívio de banda. Isso não mudou.

MYWAY: Gostarias de deixar alguma mensagem aos vossos fãs?

João Vieira: Continuem a ouvir boa música. Continuem a ver concertos ao vivo.  Não ver (concertos ao vivo) só nos festivais. Seguir as bandas, ver nos auditórios. Hoje em dia, vive-se muito só a parte dos festivais…também é importante contribuir para o crescimento das bandas, acompanhando-as.

 

 

 


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